INOVAÇÃO
ATITUDINAL - pensar e sentir o novo, positivamente
José
Predebon, 2016
A inovação transformou-se em
chave mestra da
atualidade. E isso aconteceu desde que o mundo entrou no baile da
complexidade,
nova rainha da realidade. Edgar Morin mostrou que ela se instalou pela
interferência
múltipla de todas as variáveis de nossas vidas. E na
dança da complexidade,
cada vez mais agitada, entra a inovação.
Por força de uma série de
fatores convergentes, a
inovação tornou-se um elemento onipresente na sociedade e
em seus negócios –
todos nós estamos sendo afetados pela renovação do
entorno. Vejamos a inovação
na atualidade que, por mero critério, pode-se dizer que foi
iniciada quando Peter
Drucker focalizou o fenômeno, em livro de 1985 (1).
E eu, modestamente, como velho guerreiro,
passo a
recorrer de minha experiência pessoal, para falar um pouco sobre
os papéis que a
inovação interpreta hoje – no mundo, na vida de
todos nós e em uma esperada
retomada do desenvolvimento brasileiro.
A minha análise individual do tema
começou a ser
elaborada na década do livro de Drucker, porém fora das
teorias. Eu fui
envolvido inteiramente pela prática e, penso, nela encontrei
fatos curiosos, como
se vê no caso a seguir.
34 ANOS
ATRÁS.
Inovação, em 1982, era quase
só mais que um verbete de
dicionário, e não uma das palavras hoje citadas ad nauseam em textos e conversas sobre gestão.
Mesmo assim o meu
mais relevante exemplo de inovação vem da
experiência que vivi lá naquele ano,
em que nosso futebol inovador não venceu a copa do mundo.
Meu caso ocorreu em uma empresa de menos de
30
funcionários, que navegava o vento pioneiro da
informática, vendendo o serviço
de processar, em um grande computador, a contabilidade e a folha de
pagamento
de terceiros. Bureau, ou birô, era
como chamavam o novo negócio. Fui contratado lá como
homem de comunicação e
marketing, mas hoje vejo que me cobravam diariamente só uma
coisa: inovação.
Era preciso encontrar formas para vender um
serviço
que ninguém conhecia, destinado a empresários pequenos e
médios, desinformados
sobre o que fazia um computador. Eles, frente ao que o birô
vendia, reagiam mal à proposta de
entregar informações
da sua empresa para gente “de fora”. Parecia perigoso.
Para nós do birô, ao oferecer o
que ninguém conhecia e
desejava, tínhamos criatividade e inovação como o
caminho natural. Mãos à obra,
e dá-lhe tentativas. Exemplo de uma: montamos lá um dos
primeiros cursos de
“computação para leigos”. Como não
tínhamos público receptivo, tentávamos cria-lo.
Depois eu soube que a Johnson & Johnson também precisou
criar sua
consumidora, ao lançar Modess.
O dono do birô era um empreendedor
jovem, inquieto e
ambicioso, que adorava atear fogo em sua equipe. Eu tinha o papel de
interface para
trazer ideias. Quanto mais originais, melhor recebidas. E quase tudo o
que eu
sugeria o dono aprovava e tentava implantar. Ele elogiava os acertos e
nunca se
queixava dos insucessos. Mais tarde eu soube que essa era uma
técnica da melhor
liderança, no caso, intuitiva.
Assim, sucessos e fracassos se sucederam.
Minha limitada
experiência em gestão, sei hoje, trazia muitos malogros
mas, também, facilitava
alguns acertos surpreendentes, acima das metas. E no cômputo
geral a coisa
funcionou, porém por pouco tempo: o desenvolvimento
rápido da informática logo
fez os pequenos computadores substituírem os “mainframes”.
Adeus, birôs.
UM RISCO
ATÉ DESEJÁVEL
Aquela foi para mim uma época de
descobertas,
incluindo a que hoje vejo como vital: considerar normal o risco da
inovação, e
ver nos insucessos a aprendizagem de “como não
fazer” e, às vezes, a pista de
nova direção a seguir.
Essa questão de risco para o sucesso
é bem analisada
no livro de Ed Catmull, (2) que descreve a
trajetória da Pixar, construindo e protegendo uma cultura
inovadora. O tema é complexo, mas
pode ser colocado
principalmente como problema de liderança, de enorme
influência no clima
organizacional que, por sua vez, é o parâmetro de toda a
inovação possível, em
qualquer negócio.
Bem depois, como consultor, me foi
útil a experiência do
birô para entender por que a inovação e a
criatividade têm problemas na exata
proporção do tamanho das organizações onde
se tenta usá-las. Sugiro que
isso aconteça porque quando o controle sai
do âmbito pessoal para o plano dos sistemas, a gestão
tende a ficar engessada
pelas normas.
Apesar do
discurso do empowerment, (traduzido
na wikipédia como empoderamento) nas
grandes empresas parece que se cultivar
uma barreira para impedir o uso da a pedra de toque da
inovação, a mudança. A
rotina impera.
Anos depois, lecionando criatividade em
classes de pós
graduação, fui coletando informações da
experiência de meus alunos, na maioria
executivos em multinacionais. Eram casos reais que foram completando
meu
quebra-cabeça de mil peças mostrando a realidade nada
simples da inovação.
Confesso que fiquei sempre tentando usar a
minha
experiência vivida para criar uma teoria sobre como implantar a
inovação em
organizações maiores, bem diferentes das que os donos
controlam pessoalmente. Caros
leitores, tentei muito, mas nada. No ano de 2000 até encontrei
literatura sobre
isso, no livro Big Change (3 BIG
CHANGE
- Paul Taffinder – J Wiley & Sons -),
porém dentro do panorama inglês, muito diferente do nosso.
Por aqui, o que
consegui foi me convencer que eu estava, sim, no campo da cultura
organizacional, terreno escorregadio, e que qualquer ação
inovadora devia
começar pelo elemento humano. Tentarei mostrar por quê.
SAPIENS
PORÉM
NÃO MUTANTIS.
Nascemos com um livre arbítrio
discutível, pois pouco
saímos do que nossa índole e o entorno nos condicionam a
fazer. A famosa questão
da genética versus a educação (nature
or
nurture) suscita muita discussão, e neste artigo só
cabe tangenciar o tema
pela afirmação de que, em grande maioria, por
razões múltiplas, preferimos a
segurança da rotina do que a incerteza do novo.
Isso é confirmado pela Human Dynamics,
um braço
científico recente da psicologia norte-americana, em livro de
Sandra Seagall (4),
que
afirma: somente 25% dos ocidentais gostam do novo. Se o ser humano
é assim
mesmo, mais conservador do que novidadeiro, como poderemos implantar a
inovação
em uma cultura? Arrisco dizer que quando frutifica, a
inovação quase sempre é
pontual, acontecendo porque um ou mais formadores de opinião a
implantaram e/ou
defenderam.
Cabe então, em princípio, nos
preocuparmos basicamente
em ter mais gente defendendo a mudança. Com a
inovação no coração. E
acreditando nisso, comecei a usar minhas aulas de criatividade para
fomentar também
um posicionamento mais favorável à
inovação.
A discussão contínua da
questão me fez propor, já no
início de 2015, uma forma de colocar mais gente de um universo
profissional,
principalmente os formadores de opinião, dentro daqueles 25% de
partidários do
novo. Seria, em resumo, encontrar argumentos racionais para aumentar a
aceitação do novo, no plano de uma atitude interna.
Então, em
um
texto para alunos (5) no meu site, no
início de 2015, eu sugeri um caminho para se fazer isso, com o
título de
Inovação Atitudinal. E desde então venho, em
aulas, incluindo o assunto e
colecionando técnicas para conseguir uma nova
posição nas pessoas, no sentido de
aceitar mais a mudança. Tenho proferido palestras e montei um
curso de 9
horas/aula, com o título Inovação Atitudinal.
Existe garantia de bom resultado? Não.
Nenhuma
garantia, pois digo que isso está dentro do próprio risco
da inovação. O
resultado positivo vem de um cruzamento entre o tema e o momento em que
a
pessoa está vivendo. Aqui é preciso falar especificamente
sobre o fenômeno da
mudança pessoal, que se insere na teoria dos sistemas, pois
nós também somos
sistemas, como tudo no universo.
De acordo com Illia Prigogine(6) de
um lado e Howard Gardner (7) de outro,
existe uma não linearidade em nossa evolução
mental e emocional. Após períodos
de quase estabilidade, nosso sistema sempre dinâmico se renova em
um momento
que até identificamos, como um “cair da ficha”.
Nesse instante mudamos nosso
posicionamento perante uma questão, graças à soma
de informações que fomos
adquirindo linearmente, no correr do tempo, e que de repente se
combinam e
praticamente emergem criando uma nova verdade ou uma nova
solução.
Se na dinâmica de seu sistema a pessoa
já tiver
introvertido bastante informação, estará, como um
aluno meu disse brincando,
“grávida de mudança”. Nesse caso o meu curso
ou mesmo a minha palestra poderá
trazer a ela um novo posicionamento. Que será de
adaptação melhor ao mundo
mutante em que vivemos.
UMA MUDANÇA RACIONAL PARA PROVOCAR
OUTRA, EMOCIONAL.
Vou me valer de um exemplo prático
para explicar o
propósito e o mecanismo da inovação atitudinal. Um
colega professor, que
assistia a uma palestra minha, perguntou se havia uma forma de ele
não se
incomodar com o que chamou de “ideias erradas” do filho.
Consegui lhe oferecer
uma sugestão, para que ele passasse a usar o caminho da
razão a fim de diminuir
os efeitos desconfortáveis da sua reação
emocional. Se o filho tivesse ideias
iguais às dele, pai, seria um desajustado perante sua
geração. Ao atinar com o
que seria melhor para a felicidade do seu filho, ele poderia
racionalmente
começar a mudar sua reação emocional à
questão. Quando terminei de falar ele
concordou na hora, com os olhos brilhando. O mecanismo desse exemplo
está
melhor detalhado em um pequeno texto do meu site,
“Inovação Atitudinal
Explicada” (8).
O FUTURO E A INOVAÇÃO
ATITUDINAL.
Termino este texto confessando meu otimismo,
ainda que
moderado, quanto ao futuro da Inovação Atitudinal.
Mãe e filha da mudança, vejo
que inovação está contida principalmente nos
campos da psicologia e da
liderança, e atualmente tira partido da chamada meritocracia:
pouco espaço restará
para quem não se render às regras da nossa atualidade,
voltadas para a
inovação.
Assim, penso que os líderes que
souberem criar
ambiente inovador em suas equipes ganharão mais poder, e os que
desconsiderarem
o tema tenderão a ser deletados. Isso acontecerá dentro
da questão da cultura
organizacional que não é nova, e eu não resisto a
citar o livro que ajudei a organizar,
sobre relações humanas no trabalho: Convivencialidade
(8). Ele gira em torno da
necessidade de grupos de trabalho harmônicos e entusiasmados,
abertos à mudança
do aprendizado contínuo.
Nessa visão de futuro, coloco a
Inovação Atitudinal
como um fator novo e positivo, mas termino lembrando a perenidade da
mudança.
Assim virá o dia, talvez, que ela não tenha aspecto de
novidade, tornando-se
até parte da rotina da gestão.
Porém isso só confirmará
que vivemos em mundo mutante,
o que já dizia Heráclito de Efeso, a mais de dois
milênios, afirmando que não
podemos entrar duas vezes no mesmo rio. Nem ele, nem nós,
permanecemos os
mesmos. Adaptemo-nos à mudança, o nome do jogo da
realidade, aceitando a
inovação. □□□
REFERÊNCIAS
(1) Inoção
e Espírito Empreendedor – Peter Drucker, 1985
(2) Criatividade
S. A. – Ed Catmull, 2014
(3) Big Change – Paul
Taffinder,
1999
(4) Human Dynamics – Sandra
Seagall, David Horne, 2000
(5) Texto
no site do autor: http://www.predebon.com.br/textos/IM013110.html
(6) O
Fim das
Certezas - Illia Prigogine, 1996
(7) Changing Minds – Howard Gardner, 2004
(8) Texto com o mecanismo da
Inovação Atitudinal: http://www.predebon.com.br/textos/IM016130.html .
FIM
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