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OS
ÓCULOS DO INOVADOR.
José Predebon.
Adivinhar
as
reações do público, mais que desejo e
esperança, é um sonho acalentado por quem
trabalha com o mercado. Esse é um assunto discutido muito em
minhas aulas de
inovação e criatividade, principalmente nos cursos de
marketing.
As
pesquisas
estão aí, mas ficam longe do confiável quando se
trata do futuro, onde moram as
decisões humanas. E o porvir, que nunca foi simples, nesta era
da complexidade
é quase lotérico.
Os
sociólogos afirmam
que a única previsão certa é a que a instabilidade
irá aumentar sempre. Mas sendo
ela a mãe da incerteza, o que se pode prever?
A
incerteza
chegou para ficar. Estamos assistindo o sucesso de um conceito novo, o
da “realidade
líquida”: mais de 20 livros de Zigmunt Bauman, o criador
do termo, já estão
traduzidos para o português. Ele sugere que tudo na sociedade
perdeu a solidez,
que nada mais será como antes. A isso franzimos a testa –
aí vêm problemas.
Já
vieram, pois
as coisas descambaram, dizem os mais velhos, que olham comparando, ao
observar
que tudo perdeu raízes e ganhou fluidez. Agora as coisas
virão sempre
apresentando novas conformações, queiramos ou não.
Pior para quem não se adaptar.
Esse
cenário
começa a parecer um tanto impiedoso para os homens de marketing
e administração.
Sofrem, perdem o sono, para no fim aprender “pela dor” que
a solução não tem
nada a ver com as práticas tradicionais do mercado.
A
realidade
atual nos traz um outro mundo, e ocorre que para percebê-lo
precisamos de novos
olhos ou, pelo menos, novo olhar. Como isso é
característica da geração
seguinte, a nós, hoje, resta desenvolver uma visão
empática da atual realidade.
Assim,
para
saber, por exemplo, como o público consumidor reagirá a
um novo produto ou
serviço, precisamos, até onde for possível,
desenvolver a capacidade de ver e
sentir como ele. O que é pura empatia, qualidade
psicológica preciosa ao
profissional.
Daí
vem uma
pergunta natural – será possível desenvolver a
empatia? Ao que respondo agora
como professor de inovação, que sim, é
possível, mas como hoje não existem mais
receitas prontas, muito menos haverá fórmulas para essa
mudança no campo psicológico.
Cada um precisa encontrar o seu jeito para desenvolver esse tipo de
capacidade
de sentir o que os outros sentem, que poderia ser chamada de
psico-percepção.
Na maioria dos casos o desenvolvimento é jornada de
aperfeiçoamento interior.
É
fato, porém,
que nesse caminho existem constantes. Aqui vai a primeira: para fazer a
projeção necessária a fim de comparar a sua
ótica com a de outra pessoa, dizem
os psicólogos, é preciso ter equilíbrio interior.
É fácil concordar com eles,
pois se tivermos uma posição instável, nossas
previsões não poderão ser bem fundamentadas.
Também
existem
abordagens diferentes para essa jornada. Como a visão
empática também é útil ao
exercício do potencial criativo da pessoa, o assunto é
explorado em meu livro
“Criatividade Abrindo o Lado Inovador da Mente”, que inclui
uma tese própria, a
da “Abertura da Emoção”.
Nessa
abordagem defende-se que a flexibilização da escala de
valores é um caminho
para o entendimento e a aceitação das óticas
diferentes da nossa. E ao fim do
assunto está dito lá em meu livro que o objetivo é
ter, metaforicamente
falando, óculos mágicos para enxergar a
emoção de todos.
Esses
óculos
simbolizam uma capacidade empática total, uma qualidade quase
utópica, mas um
bom objetivo a ter como mira.
Concluo
defendendo que as apostas necessárias à
inovação, baseadas na visão das
reações do mercado, serão apostas vencedoras se
o inovador conseguir usar os óculos mágicos da empatia.
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