Imagem Topo
Home Textos Quinhentinos Palestras Contato



EQUIPES E ESTRUTURAS INOVADORAS.

José Predebon

Lobos solitários formarão alcatéias.

         Só as equipes construirão o futuro. Só equipes? Esperem, sabemos que continuaremos a trabalhar com o cérebro, atividade essencialmente individual. Entretanto, todas as nossas atividades confluirão direta ou indiretamente para as equipes, pois só estas, com caras multidisciplinares e complementares, conseguirão manejar o universo do conhecimento tecnológico e científico, em impressionante expansão.

         Para se ter uma idéia do que representa esse crescimento exponencial do saber humano, basta registrar que nossos avós recebiam, durante toda a sua vida, em média, um volume de informações que hoje está em uma edição dominical do New York Times. Nesta realidade, as equipes aparecem para executar as tarefas, administrando as limitações e conseguindo juntar as competências individuais, numa soma mágica que faz o “um mais um” ser mais do que dois. As equipes multiplicam e potencializam capacidades, e assim agregam valor, interferem no contexto e constróem o futuro.

         Esse processo do desenvolvimento humano não mais se detém, passando por cima dos fluxos e contrafluxos da história, pois é como água que desce da montanha, e que só estancará ao chegar a um vale. De onde (e como) estamos hoje não podemos vislumbrar esse remanso, só nos resta considerar sua perseguição como uma regra natural para o jogo da vida. Dessa nossa aceitação vem a valorização do trabalho em equipe e a necessidade de otimizarmos nossa capacidade de integrá-las ou liderá-las. Essa é uma questão básica para o futuro, e este se refere não só a organizações, mas também a carreiras.

 

Construtores abandonarão suas plantas.

         Hoje estamos aqui tentando formar uma equipe e desenvolvendo uma estrutura para uma organização que vai nascer – e vai daí que, ao consideraR que estamos em um processo de construção, tenhamos clara a utilidade de um desprendimento quanto aos detalhes dessa obra. Cada um de nós tem uma idéia própria de como seria melhor, e por isso torna-se importante que a gente consiga até onde possível se descondicionar para dar o benefício da duvida a idéias diferentes das nossas, caso contrário, ao ficarmos só defendendo nossos pontos, a soma da equipe será sofrida e no máximo chegará a “um mais um igual a- dois”. Será preciso estar aberto para ouvir, uma condição básica para participar construtivamente e aí permitir que esta ocasião faça uma diferença ao projeto ao qual se destina, e à própria vida de vocês. Diremos que o ideal seria seguir a linha de Krisnamurti, o filósofo que defendeu, como o ápice da sabedoria, o homem ser uma folha em branco. Sim, isso é utópico, pressupõe nos tornarmos uma tábua rasa, sem emoção e opinião, mas nos dá a direção sábia para baixar o nível das nossas convicções, levar nossas certezas para áreas menos definitivas, se possível colocá-las na área das verdades provisórias ou mesmo das incertezas perenes – assim elas se tornarão proveitosas, como os paradigmas, que nos facilitam o trabalho mas que, se nos escravizam, tornam-se bloqueios para nossas caminhadas.

Portanto, caros construtores, reflitam como seria proveitoso libertarmo-nos de nossas convicções para admitir que a gente possa somar, usando também o valor do outro, não apenas impondo o nosso. Esta é a base para a construção do futuro com o trabalho em equipe, e é como a gente poderá encarar a tarefa em equipe deste evento. É uma decisão que está em nossas mãos.

 

Equipes mobilizadas (Shazam!) farão mágicas.

Garanto que todos aqui já tiveram pelo menos uma experiência em uma equipe entusiasmada, e podem se lembrar do poder e da mágica criada pela mobilização coletiva da equipe. Essa mobilização representa um dos momentos em que o homem cresce, pela potencialização de suas competências, que se dá pela força do sentimento de coletividade e comunidade, que tira dele muitos temores e fragilidades e o impulsiona na direção do entusiasmo, proporcionando novos contatos, criando novas convicções, retirando velhos medos, com ganhos de ousadia e, em decorrência, de capacidade realizadora. O homem em equipe, enfim, potencializa suas qualidades e minimiza suas limitações. O simples e bem conhecido trabalho em dupla já dá idéia de como isso funciona bem.

         A equipe entusiasmada cria uma energia própria, já que a junção das capacidades torna-se multiplicação e não simplesmente soma. Um encoraja o outro, completa o outro, inspira-se no outro, divide com o outro – é um processo gratificante. A proposição aqui, neste evento, é que tentemos formar uma grande equipe, talvez com sub-equipes, mas usando aquele espirito de cooperação que faz milagres. Reflitam para chegar à conclusão de que esta reunião é uma oportunidade para que comece a acontecer algo maravilhoso – algumas pessoas juntas, determinadas e entusiasmadas, podem mudar o mundo – e essa aqui é uma grande oportunidade de crescimento pessoal para cada um, no próprio processo, além das oportunidades para a tarefa comum se transformar em um sucesso que marcará a carreira dos que dele participarem.

Uma grande força está aqui à disposição de todos, a partir de que se consiga formar uma equipe, que será causa e conseqüência de valores novos para cada um dos seus integrantes. Valores como um espírito cooperativo, um sentimento de desapego, de participatividade, muito de tolerância, bastante de ajuda mútua. Podemos nos mobilizar a partir da convicção de que nossa causa é boa, vale a pena, e não é apenas uma iniciativa profissional, mas está em nossas vísceras. A mobilização assim inclui a disposição de sinceridade – participar com a alma, em vez de declarar apenas que participa, contar aos outros o que você só contaria a um irmão, criando um clima de transparência e comunhão que é um dos segredos do trabalho fecundo e da motivação pessoal. Esta, a motivação, dá grandezas ao homem. Existe toda uma técnica para otimizar equipes, os mais interessados podem se aprofundar no tema, mas cabe aqui eu dar três dos principais princípios das equipes mobilizadas e inovadoras.

O primeiro refere-se à eliminação da disputa que deve dar lugar ao espírito de complementaridade e encorajamento, que dá sadia base afetiva ao conjunto. O segundo refere-se à precedência do objetivo sobre o processo e suas normas, o que faz todos os integrantes chutadores em gol, em vez de detalhistas preocupados. O terceiro diz respeito à abertura de espaço para o não lógico, o inesperado, o diferente, todos estes parentes do novo. Estes princípios, quiando presentes, contribuem para o grupo transformar-se em uma equipe mobilizada.

         A mobilização, amigos, não é conceito teórico, nem abstrato. Ela começa quando aproveitamos as oportunidades que as circunstâncias nos dão hoje – elas são como uma nuvem mágica que ao atravessarmos, torna realidade nossos sonhos. É preciso estar sonhando grande, sempre, para aproveitar a chance que as incertezas da complexidade podem trazer. Por isso uma boa sugestão é colher a oportunidade desta reunião e dar o máximo de nós para a realização da tarefa, sentindo que ela será mudada pela nossa contribuição, e que o contexto será mudado com a tarefa executada – um grupo de mentes juntas faz uma diferença enorme numa organização, numa comunidade, num país e no mundo em geral. Não exagero, apenas sou otimista ao dizer que estamos aqui no limiar de um importante passo para o futuro de todos.

 

A limitação da má ordem será descartada.

Bem, agora chegou a hora de baixar a bola e falar sobre o que representa uma estrutura para uma equipe mobilizada. Estrutura, aqui, no sentido da ordem vigente. Vamos dizer que a equipe mobilizada seja a nossa meta primeira, nosso ponto de partida. Ela usa uma estrutura (que é um conjunto de normas, de cultura, de valores, de organização) para trabalhar em direção ao seu objetivo, seja ele qual for. A estrutura deve facilitar o trabalho mas, se isso não acontece, a consciência da equipe mobilizada passará por cima da dificuldade trazida pela estrutura inadequada. No exército, os sargentos fazem as coisas acontecer a despeito da burocracia e da rigidez da disciplina. A equipe mobilizada usa seu poder para reformar a estrutura. Se ela não pode ser mudada, a equipe finge que usa a estrutura existente e segue adiante. Neste ponto é útil registrar que as estruturas muitas vezes abrigam verdadeiros inimigos da inovação e criatividade. Lembremos aqui os três principais: excesso ou ditadura de normas que cria feudos e tabus, especialização sem interdisciplinaridade que cria a perda da visão do objetivo, e, finalmente, a cobrança de lógica e acertos, que acaba com a exploração de possibilidades novas. Eu teria mais a falar sobre esses inimigos, mas como é assunto para outra palestra, deixo para dar mais informações no fim desta, respondendo perguntas que os interessados fizerem.

Bem, a estrutura é portanto importante, mas não é limitadora da equipe mobilizada. Esta tem um motor próprio, que a traciona sempre em direção do aperfeiçoamento, da melhor maneira, e isso a faz ter quase sempre um trabalho inovador. E inovação, como sabemos, é conquista, é alcançar aspirações, é melhoria – portanto é muito difícil a equipe mobilizada ter como objetivo apenas o cumprimento de normas – ela sempre estará agregando valor, melhorando contextos, processos, produtos. Ao nos mobilizarmos em uma equipe, teremos em mãos armas milagrosas para o trabalho inovador. Após termos estabelecido os parâmetros de nossa ação, na forma de uma estrutura de normas implícitas, coincidentes ou não com as explícitas mas prevalecendo como uma grande estrutura cultural, aí não teremos outros encargos que não sejam melhorar, aperfeiçoas, acrescentar. O trabalho inovador também é mágico porque ele consegue agregar a capacidade humana ao contexto, uma performance inatingível por máquinas. Nasce assim, com o trabalho inovador, a oportunidade para o homem fazer o que só ele faz, e assim se realizar em sua plenitude.

 

Viajantes do caos darão sua receita.

O mundo está cada vez mais complicado, como dissemos, pela expansão do universo do conhecimento, que acrescenta, que muda. De forma até natural esse processo de mudança produz desorganização e, ultimamente, em função da velocidade das mudanças, produz o caos. Bem, o homem está sempre lutando para organizar o caos, e consegue. Mas sempre volta a acontecer o caos, num processo contínuo que sucede com intervalos cada vez menores. Dessa forma hoje o homem aprende a conviver com o caos, organizá-lo continuamente, sentir sua organização ultrapassada, voltar a atualizá-la.

Esse processo cria o princípio da organização que convive com o caos e a ordem, a organização caórdica, nome do principio difundido por Dee Hock, um líder empresarial que viveu tentando pôr em prática sua idéia na criação do Visa. Ele achou que não conseguiu totalmente, mas assim mesmo criou a maior organização do mundo. Dee Hock aposentou-se no Visa mas lidera hoje o movimento caórdico, que tenta viabilizar a criação de organizações que não prejudiquem o homem nem o meio ambiente. O estudo da complexidade contempla esse problema do caos e ordem, estudando a inter-relação dos acontecimentos, formando um contexto cada vez mais complexo. O resultado disso tudo é que não existe receita para ter ordem dentro do caos. Mas é possível trabalhar dentro do caos se você contar com uma organização ou uma equipe que absorva a incerteza do caos, seja flexível, se molde ao presente. Uma organização ou equipe que no dia de amanhã agirá diferente, adaptando-se ao momento, usando o exemplo do hoje, mas nunca adotando o passado como norma. A experiência de hoje apenas ajudar a interpretar o que houver amanhã. A receita é a não receita, representada pela flexibilidade, pela adaptação,  por estar sempre disponível para a mudança e a inovação..

         
jose@predebon.com.br