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VOCÊ NÃO PRECISA SER CRIATIVO.

J. Predebon, publicado em Exame

Resumo: o texto defende a necessidade de sermos pessoas inovadoras, em qualquer atividade, e como essa condição não depende só do comportamento criativo, pois a complexidade exige também o uso da mente organizadora para a inovação ter lugar.

         A empresa, que usa criatividade para inovar, hoje quer que você seja inovador, não necessariamente criativo.

Vamos ver a diferença de uma condição da outra, refletindo a partir do fato de que as empresas necessitam de criatividade para inovar pois só assim mantêm-se vivas.

         Apesar de isso ser notório, há aí um detalhe importante que só ultimamente tem sido notado: é que todas as pessoas da organização, criativas ou não, precisam estar inteiramente envolvidas com a inovação, para não se transformar em problemas.

         Quem apenas se conforma com a mudança, ou se adapta, sem vivê-la com o coração, acaba não contribuindo para o processo do qual participa. E isso explica o comum fracasso das tentativas de inovação.

         Bem, agora é preciso defender a afirmação aparentemente contraditória do título deste texto. Como é possível participar de um conjunto criativo, sem criatividade?

Quem afirma que integrantes de uma organização criativa não precisam exercer a criatividade são os que pesquisam a inovação no mundo atual. De repente, eles vêm com uma tese nova: hoje a criatividade é refém das mentes organizadoras. Sem estas, aquela não funciona, e por isso a pessoa dita "não criativa" está ocupando um importante lugar - que nunca tinha perdido, mas que andava sendo questionado, com todo mundo deificando a criatividade.

         A atenção para isso já era despertada em 1985, por Peter Drucker, no livro Inovação e Espírito Empreendedor, quando defendia a necessidade da “administração da inovação” e, mais recentemente, por um estudo da revista Business Week, em matéria de capa de 20/02/99, que mostrava como a complexidade do mundo torna vital a competência para a aplicação de novas idéias.

A inovação, filha da criatividade, descobriu que hoje tem como pai o sistema de implementação de processos. E daqui para frente será sempre assim, efeito das crescentes variáveis do contexto. Ciência e tecnologia põem no ambiente cada vez mais complexidade, e sua administração tornou-se sabedoria vital.

         Na organização passa a prevalecer um princípio de ação conjunta entre a inovação e a organização, algo assim como o equilíbrio existente no vôo dos balões tripulados, que precisam balancear seu impulso para subir. Com gás demais o balão se perde e com lastro exagerado não sai do chão. No caso da inovação, o gás é a fantasia e o lastro é a realidade.

         As empresas hoje, ainda que bastante presas aos vícios do sistema de comando e controle, típico da era cartesiana/mecanicista, procuram agora dinamizar a cultura existente para criar dentro de si a aceitação, procura e uso da inovação.

Essa mudança de valores e práticas não é fácil e nem sempre suficiente, pois além de cultivar as idéias novas, é preciso dispor da competência administrativa para a sua aplicação - o lastro da realidade.

É exatamente dessa contingência que vem agora a valorização do espaço para as mentes organizadoras participarem da inovação. Elas tornam-se cada vez mais imprescindíveis, pois o processo necessita de todos.

Realmente, seja qual for a natureza da pessoa, mais criativa ou mais organizadora, para ser útil ao conjunto ela hoje precisa fugir da acomodação das rotinas, mesmo as eficientes, e manter uma atitude aberta ao novo, ainda que ele não se mostre confortável.

Aqui estão três sugestões para se conseguir isso.

1)                            Alimentar, e não reprimir, o espírito questionador que possamos ter ou que outro colega integrante da equipe apresente. O olhar crítico limita a rotina, mãe da complacência, e abre portas para o que é novo.

2)                           Além de questionar, usar esquemas de reavaliações e testes permanentes, mesmo de produtos, serviços e processos que já estão azeitados pelo uso bem sucedido. O contexto mutante não perdoa o que se torna "imexível".

3)                           Buscar em si argumentos para olhar com fair-play os problemas e o desconforto das mudanças. Evitá-las sem boas razões nos será pior.

Esses princípios precisam ser adaptados a cada situação, mas, pensando um pouco pode-se concluir que eles devem fazer parte dos planos de carreiras bem sucedidas. Estas hoje são as que navegam a inovação, e que pertencem aos produtores de idéias criativas, ou aos seus viabilizadores.  

                           

         
jose@predebon.com.br